"O Último suspiro do Mouro", romance da autoria do escritor britânico Salman Rushdie, narra a saga de uma família indiana cuja genealogia ascende a Vasco da Gama, ao sultão Boabdil El Zogoiby, o últmo mouro de Granada e a judeus sefarditas; esses dois grupos expulsos de Espanha em 1492. O romance retrata uma encruzilhada de culturas e gentes. Uma das principais questões nele evidenciadas é a tolerância, num contexto em que judeus, cristãos (ingleses e portugueses) e muçulmanos hasteiam a bandeira fundamentalista. No século XV e principalmente XVI, portugueses e espanhóis empreenderam uma marcha expansionista cujas intenções políticas estavam encobertas pela bandeira do cristianismo. E não haveria de ser diferente nos séculos que se seguiram.
Devido às riquezas em especiarias, que a Índia possuía para comercializar com a europa, o país passa a ser no início da idade moderna cobiçado pelos europeus, ávidos por condimentos, cheiros e temperos. A chegada de Vasco da Gama a Cochim em 1498, a fuga de mouros e judeus espanhóis, após a queda de Granada, e o domínio da Índia pelos ingleses no século XIX até meados do século XX, são ingredientes que temperam uma narrativa cujo confronto religioso e ideológico serve de pano de fundo para que outras histórias sejam contadas. Entre elas, a trajectória de uma família mestiça e capitalista, uma dinastia furiosa, como diz Rushdie, "forjada em um grão de pimenta".
Dividido em quatro partes, o romance tem por ambiente, segundo o narrador quatro universos isolados, edénicos e infernais, infestados de serpentes. O primeiro é a Ilha de Cabral, em Cochim. O segundo, o salão de Aurora em Malabar Hill, Bombaim. O jardim elevado de Abraham Zogoiby é o terceiro. E o quarto é o estranho reduto de Vasco Miranda, o "Pequeno Alhambra", em Benengeli, Espanha.
Um livro deveras interessante. Recomendo a sua leitura.
Grafismo RG