12.03.09

 

 

portalegre_pb by rguerreiro74portalegre by rguerreiro74

Em Portalegre, cidade

Do Alto Alentejo, cercada

De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros

Morei numa casa velha,

À qual quis como se fora

Feita para eu Morar nela...


Cheia dos maus e bons cheiros

Das casas que têm história,

Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória

De antigas gentes e traças,

Cheia de sol nas vidraças

E de escuro nos recantos,

Cheia de medo e sossego,

De silêncios e de espantos,

- Quis-lhe bem como se fora

Tão feita ao gosto de outrora

Como as do meu aconchego.


Em Portalegre, cidade

Do Alto Alentejo, cercada

De montes e de oliveiras

Ao vento suão queimada

( Lá vem o vento suão!,

Que enche o sono de pavores,

Faz febre, esfarela os ossos,

E atira aos desesperados

A corda com que se enforcam

Na trave de algum desvão...)

Em Portalegre, dizia,

Cidade onde então sofria

Coisas que terei pudor

De contar seja a quem fôr,

Na tal casa tosca e bela

À qual quis como se fora

Feita para eu morar nela,

Tinha, então,

Por única diversão,

Uma pequena varanda

Diante de uma janela...

Excerto de "A Toada de Portalegre" que é um poema de José Régio, dedicado à cidade que o acolheu durante mais de 30 anos. José Régio, poeta nascido na cidade de Vila do Conde, foi para Portalegre em 1928 onde leccionou no Antigo Liceu. Aqui viveu até 1967, altura em que regressou à sua terra natal onde veio a falecer dois anos depois.

Ilustração de RG

publicado por RG às 00:50

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